COVID-19 no Japão

Resumo breve da situação do Coronavírus no Japão contado por um Português

May 5, 2020

Resumo breve da situação do Coronavírus no Japão contado por um Português

O vírus SARS-CoV-2 veio alterar o mundo tal como o conhecemos e, apesar da proximidade geográfica com a China, e de ter sido o terceiro país no mundo a reportar casos de infecção pelo novo coronavírus, a evolução da epimedia no país do sol nascente foi lenta, sendo apontado como possíveis razões, o facto de os Japoneses já terem hábitos de higiene rigorosos, tais como a utilização de máscaras durante o inverno, a disponibilização de desinfectante à entrada de estabelecimentos comerciais e públicos, e até o hábito cultural de não cumprimentar pessoas com aperto de maõs, ou beijos na cara. No entanto, naquela que é a cidade mais populosa do mundo, conhecida não só pelas suas ruas limpas bem como pelas várias modas que atraem milhões de turistas todos os anos, Tóquio é também conhecida pelas suas longas horas de trabalho em escritórios pequenos, restaurantes minúsculos cheios, e comboios abarrotados de passegeiros, tudo condições não ideais para combater este vírus.

O início do ano virou as atenções do mundo para a cidade de Wuhan, após o governo chinês colocar em confinamento cerca de 11 milhões de pessoas. No início da epimedia, este parecia ser um problema essencialmente chinês, que dificilmente poderia penetrar outros países, algo que certamente agradava toda gente, num ano em que grandes competições internacionais teriam lugar, tais como o campeonato europeu de futebol e os Jogos Olímpicos em Tóquio. Com a expansão do vírus na Europa e nos Estados Unidos da América, vários atletas viram-se impedidos de treinar para as competições mencionadas e a pressão sobre o Comité Olímpico e o governo japonês aumentava. Confirmado finalmente o adiamento dos Jogos Olímpicos em Tóquio, o número de casos reportados no Japão pareceu finalmente começar a aumentar, levantando dúvidas sobre quais as razões de somente agora, após o cancelamento dos Jogos Olímpicos de 2020, se verem mais casos no país.

Vídeo publicado no YouTube.

Os primeiros casos

O primeiro caso reportado no Japão deu-se em 16 de Janeiro de 2020, após um homem na casa dos 30 ter viajado para Wuhan, epicentro da epimedia. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, este foi o segundo caso reportado fora da China, depois de um primeiro caso ser conhecido na Tailândia.

As medidas de confinamento em Wuhan levaram a que o governo japonês iniciasse a repatriação de nacionais seus localizados naquela cidade. Como resposta, o governo estabeleceu uma Sede de Resposta de combate ao Coronavírus, anunciando que aqueles vindos de Wuhan seriam controlados na fronteira. Apesar disto, notícias que nacionais seus repatriados teriam entrado no território sem serem sujeitos a qualquer exame médico para averiguar se essas pessoas tinham contraído o vírus de que fugiam, surgiram nos meios de comunicação. O governo tinha assim optado por testar somente aquelas pessoas que exibiam sintomas do vírus, uma decisão que se manteve até hoje. Enquanto isso, ao longo de Janeiro, novos casos foram surgindo, apesar de estes casos parecem estar, de alguma forma, confinados ao contacto directo com turistas Chineses no país. Mas isso não impediu que, como consequência directa, o açambarcamento de papel higiénico começasse no país. Apesar da produção do papel higiénico ter lugar no Japão, rumores nas redes sociais lançaram o pânico, e, de um dia para o outro, encontrar papel higiénico, bem como máscaras e desinfectante tornou-se numa missão quase impossível, exigindo um esforço matinal por parte dos interessados uma vez que seria necessário cordar cedo e esperar nas filas. Uma das razões para tal escassez tem a ver com a particularidade da cadeia de distribuição japonesa. Ao contrário do que acontece noutros países, a distribuição de bens no Japão é altamente fragmentada, sendo a venda dos produtos feita através de vários retalhistas pequenos que mantêm stock só para um dia.

Nas bocas do mundo

O mês de Fevereiro foi marcado pela quarentena do Cruzeiro Diamond Princess. Com esta quarentena, o número de casos no Japão aumentou rapidamente. Apesar de já haver alguns casos no país, o número de casos reportados no navio representava a maioria da totalidade, dando uma falsa sensação de segurança que o vírus estaria contido no navio. Apesar da quarentena, a decisão do governo japonês em isolar o cruzeiro levantou críticas interna e internacionalmente, por ser considerado um clusteri> para contaminação rápida dos passageiros, à medida que o número de novas infecções aumentava.

Para Portugal, o cruzeiro resultou também no primeiro português infectado com o coronavírus, em 22 de Fevereiro, sendo, dias mais tarde, noticiado que um outro português também se encontrava hospitalizado por indícios de infecção do novo coronavírus. Apesar destas infecções, em Fevereiro, a possibilidade do vírus ter o mesmo impacto no Japão e na Europa como teve na China ainda não era equacionada. Mas essa eventualidade não poderia esta mais longe da realidade. Em Portugal a própria Direcção-geral da Saúde (DGS) confirmava que havia poucas possibilidade de o vírus chegar a Portugal, e no Japão o governo continuava a garantir que os Jogos Olímpicos teriam lugar tal como previsto.

A emergência assim-assim

Com o vírus a se alastrar rapidamente a outros países, em 11 de Março a Organização Mundial da Saúda declara finalmente esta doença como uma pandemia. Mas no Japão tudo parecia continuar normal, apesar da escassez do papel higiénico e das máscaras. Após muito se especular e evitar, em 24 de Março, o governo anunciou que os Jogos Olímpicos seriam adiados. A nova data seria indicada dias depois, com data prevista para 23 de Julho de 2021. Com os Jogos finalmente adiados, começa-se a ouvir mais sobre lockdown, distanciamento social, e até de uma potencial declaração de estado de emergência. A evolução no Japão levantou suspeitas sobre como o governo lidava com a epimedia, quer pela sua decisão de testar somente aqueles com sintomas, quer pela maneira como anunciava que ia anunciar um estado de emergência.

Enquanto vários países europeus se confinavam e discutiam sobre a utilização de máscaras pelos seus cidadãos, o governo japonês procura acalmar as pessoas e anuncia a distribuição de duas máscaras de pano reutilizáveis, por cada família. Esta decisão deve-se ao uso geral pela população de máscaras e pela insuficiência que o vírus provocou. Apesar de ser bem-vinda por algumas pessoas, face à carência sentida, esta medida, que foi apelidada de Abenomask, numa alusão às políticas para revitalizar a economia conhecidas como Abenomics, foi também altamente criticada por não abranger a totalidade das pessoas, pois o governo comprometeu-se a distribuir duas máscaras de pano por cada agregado familiar, quer esse fosse composto por uma pessoa, ou por dez.

Após muito se especular, em 7 de Abril, o governo de Abe Shinzo declara o Estado de Emergência no país, mas somente para grandes centros urbanos, como Tóquio e Osaka. No entanto, dez dias depois, esse estado de emergência acabaria por ser alargado ao resto do país. Ao contrário do que acontece em Portugal, o Estado de Emergência não confere poderes que obrigue as pessoas a ficarem em casa ou as empresas a fecharem. Sem esses poderes legais, o governo fica-se pelo apelo a uma redução de interacções entre pessoas e que as empresas adoptem o teletrabalho. Para que isso aconteça o governo anunciou que irá conceder 100 mil ienes, cerca de euros 860 euros, a quem assim o solicitar, não sendo necessário justificar a solicitação. Alguns políticos procuraram deixar estrangeiros residentes no Japão fora desta medida, bem como os trabalhadores da indústria do sexo, mas esta última medida seria revertida mais tarde e, a primeira, não passou de propagando política por parte da ala mais conservadora da política japonesa.

Chegados ao dia 18, o Japão ultrapassou a barreira dos dez mil infectados confirmados no país, com Tóquio a liderar a tabela , duplicando, assim, em nove dias, o número. É caso para dizer que o país começa agora a correr atrás do problema, procurando finalmente aumentar o número de testes disponíveis. Apesar de críticas à acção do governo, naquele que é o país com mais pessoas acima dos 65 anos, poucas são as mortes reportadas por infecção do novo coronavírus. O Japão tem mostrado que os seus hábitos de higiene praticados diariamente pela larga maioria da população deixaram o país preparado para um epimedia. Contudo, este é um novo coronavírus que parou grande parte do mundo desenvolvido, e a sua trajectória ascendente parece ainda só agora estar a começar.