Ramblings to a friend

July 7, 2007

Ramblings to a friend

Language: Portuguese

Se o ser humano é só carne, como o robô é só peças, devemos-lhe respeito, pois só isso certamente não só serão.

Talvez só quando a carne é rasgada, por dor ou prazer, pensamos em mundos que não compreendemos mas que não sentimos quando não somos tocados. Talvez a carne, o fim da carne, nos liberte e abre a mente, aquela mente, aquele espírito que nos deixa a interrogar se somos mais do que isto. Aquele espírito que queremos sentir, aquele mundo que pensamos ter sentido, aquele deja vu que vimos num filme, ouvimos numa música, ou reconhecemos em palavras de outros que pensavamos serem nossas, mas, afinal, não são. Será que iremos encontrar essas mesmas palavras nesse mundo que pensamos que só nosso é? Irei encontrar lá alguém igual a mim? Ou será somente outro vazio? O desejo é que, de facto, nada seja, tal como agora se pensa que é, não fosse a carne. Mas será a carne só uma ilusão? Trinco-me para sentir a dor. Peço que me trinquem para sentir o prazer… Mas sou céptico e continuo a achar que o programa inserido na minha caixa, no meu corpo, é o que me leva a pensar isso. Tal como um robô com o seu programa informático; à medida que os anos passam o seu programa é actualizado:

1

1.1

1.2

1.3

2

2.1

2.2

2.3

2.4

3

...

…e ele vai aprendendo, eliminando o que não gosta, melhorando-se a si próprio, aprendendo, pensando que comprende a vida e o mundo a cada actualização, e esquece... Mas se não esquecer vai-se lembrar e vai ver que talvez não esteja assim tão longe da verdade que procura, do sentido de vida que quer; de sentir, sentir se de facto aquelas peças existem, se o programa é real, se o ser é verdadeiro, ou será que nada existe? Talvez seja só um pensamento esquecido dos deuses; adormece e nunca mais acorda. E acorda quando o deus já é velho, e tudo o que sente são recordações e chora e pergunta-se onde está… e acorda e tudo o que vê são imagens e nada sente, nada sente, nem se pergunta por quê, nem sabe que os anos passaram, nem sabe que alguma vez existiu, nem sabe que ninguém sabe, nem ninguém sabe.. porque não importa.

Será o cérebro a chave para a resposta? Será a vida demasiada curta para o desenvolver e descobrir a resposta? E até quanto se pode o cérebro desenvolver? Tudo tretas! Tudo, tudo, tudo, tudo, tudo, tudo, tretas.. Os tolos ao menos sabem o que dizem, vivem à sua maneira, mas no fundo, são mais uns manipulados como todos nós. O universo, se é universo infinito, nao deve ser todo material, deve haver algo espiritual, mas até isso é banal, por que que não se descobre o que há mais. Material igual a palpável; espiritual igual a sei-lá-o-quê, mas esse sei-lá-o-quê, bem como o material igual a palpável sei-lá-o-quê, isso já se sabe, pelo menos tem-se o conceito na cabeça, por muito errado ou incompleto que seja, ou falso ou inexistente, mas o conceito existe, agora e os outros, aqueles que nunca passaram pela cabeça de ninguém. Tudo o que existe é só o que vemos, é só o que pensamos? Será que, mas afinal o quê, o que somos... isso não me preocupa realmente. Mas serão os nossos conhecimentos manipulados, desenvolvidos segundo o gosto de alguém?

Tal como o programa do robô, alguém, durante a nossa história, é que nos dá a capacidade para crescer, estar mais perto da resposta. Mas, se essa resposta não for a resposta, isso não me preocupa. No entanto, quando penso que talvez as pessoas não existem, que nada existe, que absolutamente nada existe, é dificil acreditar assim. Penso logo que existo… Que puta de pensamento! Mas isso não me preocupa. Preocupa-me sim, aqueles mundos, aqueles sentimentos, aquele sonho que sei que sonhei, que senti, mas não sei o que, quando e como. São as coisas básicas que me preocupam. É a carne a ser rasgada e o cérebro a me dizer que é prazer ou dor, que sejam ambas muitas vezes, muitas, muitas, muitas vezes… e que sejam combinados, misturados, entrelaçados até já não se distinguirem mais; e que dêm azo a nova sensações bastardas. Mas se as sensações e os sentimentos são sempre os mesmos, então isto acaba por ser uma perda de tempo, pois eles devem variar. Mas, a verdade é que, a música há muito tempo parou de tocar, o sol, bem como as estrelas, pararam de brilhar... Mas sentir, isso sempre, e sempre o mesmo…

Eu não sei criar, muito menos falar.